O VELHO CÃO, A MULHER E O POETA

O cão recebe carinhos da mulher e seja onde ela quiser ele as dá também a ela. Já o Poeta esse sim, está sempre em seu jardim, escrevendo sobre a tez, mas seu afagar segue naqueles e por mais que não os receba, o seu escrever tece nas peles. E estes sentem neles, nas letras dele sua nudez. 
A mulher e seu cãozinho, ora caminham juntos, no parque, na praça na via. Já o caminho do Poeta é muito. Ora está sozinho, ora com a caneta, com a pena ou com uma taça de vinho.... Acariciando lhe sua alegria. Mas tenho cá em minha mente, que o mais belo poetar, por mais que seja brilhante há sempre um certo acarinhar e vejo daqui de minha mesa a mais linda sobremesa que vem com a riqueza do seu mais rico versejar.  Já a mulher por sua vez, afagos tem em sua tez, sem haver um só tocar. E o cão que está velho, senta na porta a esperar por sua dona que demora, lá pelo parque a caminhar, pois o amor dela a penhora, resgatado pelo Poeta, nas linhas do seu versejar! Ela caminha sem rumo certo e pensa sempre estar bem perto e por mais que vá direto, seu conforto lá não está.... Vê olhos e olhares e sorrisos aos milhares, mas seu Poeta ela não vê. Senta então angustiada, com a alma apertada, ela vê tudo e não vê nada!  E o que escreve de longe a vê desenhar cada traço do rosto, do seu braço que está exposto e do vestido branco arrastar ao chão. Da sombrinha que ela carrega, e está quase sempre aberta e na coleira vai o cão, opa! Esse poema tem um erro, e o pensamento solta um berro e vê que a donzela está sem cão, é sua chance, pois é bravo, ciumento e bom soldado que não deixa ninguém chegar, e quando ele está pertinho traz um buquê e um sorriso e na outra mão um poema, que está sempre à mão! Quando ele chega ela olha, levanta em um pulo, sorri e abraça o cão! Ele passa de fininho está outra vez sozinho, pois lhe penetra a espada da solidão. Ela corre! Sente o perfume que lhe impregna nos versos, dos poemas que ele faz e o vê então de costas, e exige mil respostas e quando ele vira até o cão sorri com a boca esbaforida. Ela o abraça e encosta no peito dele, e o cãozinho pula nele como se estivesse a festejar. E seguem em passeio... 
O velho cão, a Mulher e o Poeta.


Osny Alves

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