O Peso Da Cor

(Por Osny Alves)

Esses dias estive pensando, coisa bem rara vindo de minha pessoa! Com o meu carro quebrado tive que pegar alguns metrôs, ônibus e trens para resolver minhas coisinhas do dia a dia, e para meu espanto percebi que as máscaras que as pessoas nos rotulam são tantas que a discriminação ficou fora de moda.
Estava sentado no ônibus e pedi para segurar a bolsa de uma mulher, ela me olhou de cima a baixo, com aquele olhar de desconfiança, muito comum nos dias de hoje e me disse que não necessitava, eu podia ver seus dedos quase dilacerados com o peso da bolsa e mil sacolas como se fossem algemas.
Enquanto percorria as ruas da minha cidade, tranquilo e cantarolando uma música qualquer, percebi que por onde eu ia passando as mulheres jogavam as bolsas para o outro lado e as seguravam com imensa força, na hora não entendi muito o porquê, desses acontecimentos, até que uma ao me ver entrou em desespero, atravessou a avenida correndo e quase foi atropelada, do outro lado foi assaltada por dois caucasianos que esperavam ansiosamente por uma vítima.
Confesso que foi até engraçado, saiu de sua total segurança para pular na teia de duas caranguejeiras impiedosas. Mais à frente foi a minha vez de me deparar com meus algozes, que correram pensando que eu fosse um policial civil. Tudo bem que com meu um metro e oitenta e cinco centímetros de altura, e noventa e cinco quilos, deva assustar muita gente, mas aquilo era anormal! Ao voltar para casa passei próximo a um posto policial e um dos policias me saudou com um cumprimento militar, e fiquei imaginando a bela crônica que isso daria, afinal sou professor e dia desses a mãe de uma aluna me encontrou em um grande magazine e a menina me apresentou a ela que rapidamente perguntou-me se eu trabalhava ali, eu olhei para sua mãe e disse-lhe que dava aulas, e ela me fez a mesma pergunta mais duas vezes, a menina toda sem graça se despediu e nem tocou mais no assunto. E é só quando eu escrevo que me sinto alguém e mesmo depois de mais de mil poemas escritos, tem gente que me pergunta: Você é Poeta? Dou um largo sorriso e digo: eu só escrevo, porque se eu disser, acredito que pensarão que sou mentiroso.

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